terça-feira, 29 de maio de 2012

ESCREVER É PRECISO: O PRINCÍPIO DA PESQUISA


        UNEB – UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – CAMPUS XVI IRECÊ –BA

ESCREVER É PRECISO: O PRINCÍPIO DA PESQUISA
MÁRIO OSÓRIO MARQUES
CAPÍTULO 4 – ESCREVER, O PRINCÍPIO DA PESQUISA

                                                                                  RESENHISTAS – GICÉLIA GONCALVES
                                                                                                                   JAISSE MENDES
                                                                 PROFESSOR ORIENTADOR – LUIZ FELIPE SERPA

Segundo o autor depois que se adquiri o ato de escrever, o mesmo se torna um vício, acontecendo o mesmo com o ato de pesquisar, tornando o escrever uma pesquisa e que, no dizer de Neils Bohr (1995, P.51, 91), é “uma situação em que possamos dizer aos outros o que fizemos e o que aprendemos”. Não conseguimos fazer ciência sem o ato de escrever, uma vez que a comunicação oral em congressos, seminários, etc.,é um ato momentâneo e com curto alcance. Na pesquisa o escrever é encurtado, conduzido por regras como: tematização, argumentação e apresentação clara e objetiva, direcionada para determinados leitores.
Para o autor pesquisar é quando se procura por algo novo, diferente e original, sendo guiado por um desejo interior de criar o “nosso”. Sendo o tema o coração da pesquisa ele deve ter cunho subjetivo e conduzido pela paixão, pelo interesse e pelo desejo. O tema é que norteia nossa vontade de descobrir, de aumentar nosso conhecimento prévio, de recriar algo do nosso jeito a partir de algo que já existe. No entanto, deve-se ter atenção quanto ao número de dados e documentos para evitar o amontoamento, o que dificultará um trabalho coerente.
Para ele o primeiro passo seria a criação da espinha dorsal, ou melhor, de um título-síntese para o tema, seguido por uma decomposição do mesmo em subtítulos, em subunidades, em temáticas coerentes, coesos e com densidade e significação próprios. Acrescenta-se a isso um sumário e algumas referências bibliográficas, o que mostrará que conhece a teoria. Cada tópico deverá ser trabalhado em sua totalidade isto é, sua própria forma de desenvolvimento, seus desdobramentos de forma coerente e consistente. Com isso sua pesquisa já estará mapeada e demarcada podendo dar início ao trabalho por partes. Sempre podendo ser modificada e reorganizada um pouco ou o todo, pois, se não fosse assim não seria uma pesquisa, mas, sempre tendo o cuidado de não perder o foco nem a coerência.
O segundo passo será eleger autores selecionados pelo tema para argumentar sobre o mesmo, pois, através dessas idéias prontas desenvolvem-se suas próprias idéias, confrontando seus saberes prévios de vida e do tema. O pesquisador convocará os interlocutores à medida que o tema for sendo desdobrado. Esses serão do campo empírico, do campo teórico e os interessados à escuta.
No campo empírico o pesquisador lida com experiências que serão ditas de maneira simples e direta para que se produza novos conhecimentos, para que torne de fato uma pesquisa: quando  se aprende mais sobre determinado assunto, tema e o transmite da forma mais simples possível. O autor mostra a importância do campo teórico uma vez que o mesmo nos diz que nenhuma prática existe sem uma teoria da mesma, por mais simples que sejam elas não estão soltas e desgarradas. E os interessados à escuta são os leitores, sendo o pesquisador o primeiro leitor, além dos amigos, companheiros de trabalho ou um conselheiro. No caso de pesquisas patrocinadas por instituições de ensino, universidades existe a presença do Orientador da Pesquisa, figura de muita importância pois, não é um leitor comum e sim, alguém que trabalha em pesquisa na mesma linha que a do pesquisador.
Mario Osório  afirma que a matéria-prima de qualquer pesquisa é a experiência de vida e trabalho do pesquisador. Sendo assim, não se pode inventa do nada o conhecimento, nem se fundamenta ele num absoluto transcendente, nem num órgão ou dispositivo inato. Mas, segundo ele, se faz possível o conhecimento graças aos processos de aprendizagem social na reconstrução de modelos categoriais, ou conceitos teóricos, que interpretam as mudanças operadas nas situações sociais concretas de frente à natureza imutável. Pois ele acredita que as aprendizagens sociais pelas quais os homens se consti-tuem em homens e mundo na constituição da ordem simbólica sig-nificam que os homens singularizados aprendem uns dos outros e uns com os outros (cf. Marques, 1994, p. 15-50; 1996a, p. 83-94). Devido a isso os homens se entendem e entendem o mundo que habitam, interagindo intersubjetivamente ao se constituírem sujeitos autônomos e competentes. Assim os pesquisadores encontram-se sob condições subjetivas, empíricas, sociais e históricas que interferem no processo da pesquisa.

Conforme relato do autor o trabalho da citação é uma complexa estratégia de interações que também envolve os leitores, e sua competência na linguagem. Com isso se tem assentado o princípio do sujeito/autor que reescreve/repete enunciados de outrem, sujeitando-os à lógica do próprio escrever. O autor também nos traz a concepção de que em seus valores de uso cada palavra se apaga para se fazer significante em abertura para determinados usos na frase esta, adquire outros significados ao serem inseridas em outros contextos de discurso. Segundo ele o apagamento em que se constitui o significante da frase ao se transportar para outro contexto pela ação de outro escrevente/pesquisador, passa por uma substituição de sentidos ao manter relação especial com o texto original. Pois quando lemos, algo em especial voltamos então atrás e nos fixamos naquela passagem e a extraímos de seu contexto, sublinhando-a, ou sinalizando-a à margem do texto, ou transcrevendo-a em nossas anotações, isso é sobretudo usina de transformações  de um texto em função de outro. Para ele existem vários níveis da citação, desde a citação literal sinalizada por aspas e destacada, passando pela citação livre, ou tradução em linguagem nossa, de passagens de um capítulo, ou mesmo de todo um livro. No primeiro e segundo casos, se faz indispensável a referência do autor, à obra dentre as dele e à(s) página(s) lida(s). Já no terceiro caso tais referências são dispensáveis,

Marques ressalta que o valor de nossas pesquisas depende do valor de nossas leituras obtidas através de nossa experiência de mundo. Pois a citação não se trata de uma de uma cópia, mas de uma recriação em outro tempo e lugar. Levando-se em conta que a criatividade e persistência do pesquisador se deve a unidade de seu estilo, pois o pesquisador necessita saber o que procura. “Chama-lhe a atenção o trabalho de Luna (1991, p. 25) para o reconhecimento de que a Metodologia não tem status próprio, e precisa ser definida em um contexto teórico”.  Ele acredita que a pesquisa cumpre uma função construtivo-organizativa dos enunciados, correlacionando-os entre si na composição de um sistema de recíprocos, pelos quais se podem inserir em sistemas mais amplos. Segundo ele o próprio autor, deve realizar o reequilibramento das partes que compõem sua obra, pois as citações e bibliografia comprovam o que foi de fato percorrida na pesquisa. Para que as citações sejam validadas é necessário que se coloque a referência da citação na bibliografia isso lhe dará autenticidade e fidelidade oferecendo ao leitor pistas de identificação.

Outra maneira de ampliar os espaços da citação e da bibliografia que o autor nos traz é o uso de Notas indicadas por referências no texto e colocadas ao pé da página, ou no final do capítulo respectivo, ou antes, da bibliografia. Isso servira como indicativos para a ampliação do tratamento do assunto em pauta. Para ele tem igual importância o Sumário ou índice que oferece ao leitor visão de um conjunto organizado em partes e subpartes.

Para finalizar seu trabalho o autor o apresenta ao leitor sob a forma de Introdução, uma retomada dos caminhos andados. Assim ao fim do trabalho se apresenta um sumário das Conclusões a que chegou a pesquisa. E por último O Prefácio ato social do escrever e o primeiro do ler. Finaliza a escritura ao mesmo passo que marca a entrada dela no universo da publicitação, a passagem da produção para a circulação do texto.

REFERÊNCIAS

BOHR, Niels. Física atômica e conhecimento humano. Rio de Ja-neiro: Contraponto, 1995.
LUNA, Sérgio V. de. O falso conflito entre tendências metodológicas. In: FAZENDA, Ivani (Org.). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez Editora, 1991. p. 21-33.
MARQUES, Mario Osorio. Escrever é preciso : o princípio da pesquisa / Mario Osorio Marques. -5. ed. rev. - Ijuí : Ed. Unijuí, 2006. 154 p. - (Coleção Mario Osorio Marques ; v. 1)
MARQUES, Mario Osorio. Universidade emergente - o ensino su-perior brasileiro em Ijuí (RS) de 1957 a 1983. Ijuí: Ed. Unijuí, 1984

terça-feira, 15 de maio de 2012

PSICOLOGIAS – UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE PSICOLOGIA

                                          ANA M. B. BOCK, ODAIR FURTADO E MARIA DE L. T. TEIXEIRA
CAPÍTULO 2 - A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA

RESENHISTAS – GICÉLIA GONCALVES
                 JAISSE MENDES    

PROFESSORA ORIENTADORA– PATRÍCIA JÚLIA

Segundo os autores o homem, durante toda a sua vida, produz história, desde as atitudes mais simples até as mais complexas invenções, um longo processo histórico se constrói e se modifica ao longo das gerações. E assim, por ser dotado de racionalidade, capacidade inexistente em outros seres vivos, o homem, a medida que constrói a sua história, também a estuda, a examina e, junto com a construção humana, as Ciências que a estudam, a exemplo da Filosofia e da Psicologia, também evoluem dando conta de explicar ou tentar explicar a verdade sobre todas as coisas. Sendo assim estuda-se o processo histórico de todos os acontecimentos para que se entenda o passado e se modifique o futuro.
Para eles foi com o desenvolvimento do homem, ao longo de milênios, que se descobriu que ele, pela sua enorme complexidade, poderia ser dotado de corpo e alma, do imaterial em contraposto ao material e que se precisava de algumas ciências que o explicasse. Com isso pode se explicar assim o surgimento da Psicologia, ciência esta surgida da necessidade de estudar-se a alma dos humanos, a parte que o faz dotado de emoções e o separa da razão. Surgida acerca de dois milênios na forma de Psicologia Filosófica, visto que foram os filósofos gregos, primeiro os pré-socráticos, depois Sócrates, Platão e Aristóteles que deram os primeiros passos na busca da divisão do homem em corpo e alma. Eles acreditam que o grande desenvolvimento da Grécia antiga os obrigou a buscarem novos avanços na astronomia, arquitetura, agricultura, física e geometria e também na certeza de que o homem, a partir daquele estágio de desenvolvimento, já precisava estudar o espírito. Assim, tenta-se então sistematizar a Psicologia e cria-se a definição da palavra como sendo o “estudo da alma”. Essa ciência passaria a estudar então aquilo que é considerado imaterial no homem, a exemplo do amor, do ódio, do pensamento, das suas tristezas e angústias. Começa então o embate entre os filósofos idealistas – que defendiam que todas as coisas partem das idéias de quem as vê – e dos materialistas – que acreditavam que tudo já existe independente da idéia de quem vê. Questões como mortalidade e imortalidade da alma foram discutidas, escritas e reescritas pelos filósofos gregos, criando-se teorias antagônicas como a platônica e a aristotélica.
         Para os autores é com o surgimento deste gigantesco Império Romano e com o advento do Cristianismo, que surge a Psicologia como ciência, levando-a a ser explicado sob a ótica da Igreja, do sagrado. Sendo deste período Santo Agostinho e São Tomás de Aquino que, aproveitando os preceitos da Antiguidade Grega, trataram de estabelecer clara separação entre corpo e alma, dizendo, segundo a Igreja, que esta pertencia a Deus.
          Segundo eles foi com a chegada do Renascimento que o Homem voltou a ocupar posição central no mundo, lugar ocupado por Deus segundo os preceitos da Igreja. É também, de acordo com os autores, a fase das grandes invenções e dos grandes homens, a exemplo de Leonardo da Vinci, Galileu, Copérnico, Dante e René Descartes. Agora o Homem vê o progresso e o desenvolvimento do Mercantilismo e o advento do Capitalismo passando por grande transformação social. Estudando-se então, com afinco, a distinção entre corpo e alma, dando-se extremado valor à segunda, sem a qual o homem passaria a apenas vegetar, como disse Descartes: “o corpo desprovido do espírito é apenas uma máquina”.
Para eles o crescimento do capitalismo trouxe consigo o processo de industrialização, o qual a ciência deveria dar respostas e soluções práticas. Isso impulsionou o desenvolvimento da Psicologia. Esse avanço é explicado através de características da sociedade feudal e capitalista emergente, como sendo responsável pelas mudanças que marcaram a história da humanidade. Segundo os autores a relação do senhor e do servo era típica de uma economia fechada, na qual era estabelecida uma hierarquia rígida, não havendo mobilidade social, predominando a visão de um universo estático. Nesse mundo o homem tinha seu lugar social definido a partir do nascimento. Submetendo a razão à fé como garantia de centralização do poder. Para isso o capitalismo buscou novas matérias-primas na Natureza; criou necessidades; contratou trabalhadores, isso pôs o mundo em movimento, tirando o homem do centro do universo e colocando o Sol em seu lugar. Isso levou o homem a questionar os dogmas da Igreja e a construírem novas formas de produzir conhecimento que não era mais estabelecido pelos dogmas religiosos. Segundo os autores foi nesse período que surgiram homens como Hegel, Darwin e Augusto Comte o qual iniciou o Positivismo, o inglês Edward B. Titchner e o americano William James.
            De acordo com os autores foi em meados do século 19 que os problemas e temas da Psicologia, antes estudados pelos filósofos, passam a ser investigados pela Fisiologia e pela Neurofisiologia. Pois acreditavam que para se conhecer o psiquismo humano era necessário compreender os mecanismos e o funcionamento do cérebro. E isso só seria possível com a ajuda dessas ciências. Foi, segundo eles, por volta de 1846, que a Neurologia descobre que a doença mental é fruto da ação direta ou indireta de diversos fatores sobre as células cerebrais. E a Neuroanatomia descobre que a atividade motora nem sempre está ligada à consciência, pois não estão na dependência dos centros cerebrais superiores.
            Segundo os autores foi em 1860, que se formulou a Lei de Fechner-Weber, que estabelece a relação entre estímulo e sensação, instaurando a possibilidade de medida do fenômeno psicológico. Para eles os fenômenos psicológicos vão adquirindo status de científicos, porque, para a ciência da época, o que não era mensurável não era passível de estudo científico. Eles nos trazem também, outra importante contribuição para Psicologia científica é a de Wilhelm Wundt (1832-1926) que é considerado o pai da Psicologia moderna ou científica. Wundt desenvolveu na Universidade de Leipzig, na Alemanha, a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a qual aos fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos. Isso através de um método denominado introspeccionismo. A pesar de ter nascido na Alemanha, é nos Estados Unidos que esta ciência encontra campo para um rápido crescimento. É ali que surgem as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia, como o Funcionalismo, de William James (1842-1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). Estas três tendências teóricas são consideradas, neste século, como sendo o Behaviorismo ou Teoria (S-R) (do inglês Stimuli-Respond — Estímulo- Resposta), a Gestalt e a Psicanálise.
Para eles o Funcionalismo é considerado como a primeira sistematização genuinamente americana de conhecimentos em Psicologia. O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o Funcionalismo: a consciência. Foi Titchner, quem primeiro usou o termo de estruturalismo para diferenciá-la do Funcionalismo.
Os autores definem Edward L. Thorndike como o principal representante do Associacionismo, sendo ele o responsável por formular a teoria de aprendizagem na Psicologia e a Lei do Efeito. Para esta, todo comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir. O termo Associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação das idéias — das mais simples às mais complexas. O Behaviorismo nasce com Watson e desenvolve-se nos Estados Unidos, A Gestalt, que tem seu berço na Europa, e postula a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade. A Psicanálise nasce com Freud, na Áustria tendo como objeto de estudo o inconsciente.